quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Pequenas Memórias - “AS SIAMESAS” (IV), por Júlia Barros Ribeiro

“Grande é a poesia, a bondade e as danças ... Mas o melhor do mundo são as crianças “
Fernando Pessoa



No ano lectivo de !974/75, portanto logo após o 25 de Abril, e enquanto não saíam os novos programas, a Direcção-Geral do Ensino Básico dirigiu uma circular às Escolas do Magistério Primário e às Direcções e Delegações Escolares para que pedissem aos professores que, “antes de começarem propriamente a sua aula, dedicassem entre 3 a 5 minutos para falarem do assunto do dia anterior que tivessem achado com mais interesse para as crianças tomarem conhecimento do que se passava no país ou no mundo”.
Alguns professores recorriam ao que a televisão tinha mostrado. Outros levavam um jornal para a aula. Houve professores que consideraram a ideia muitíssimo interessante. Outros não. A liberdade de escolha e de expressão foi uma conquista do 25 de Abril.
Mas vamos à estorinha. Contou-me uma professora de uma aldeia do concelho de Leiria que achou que seria bonito falar com as crianças sobre uma operação que o Dr. Gentil tinha realizado no dia anterior: separara duas irmãs siamesas que estavam unidas pelas nádegas e costas até quase aos ombros, mas tinham duas espinhas dorsais independentes. A professora levou o jornal com as fotografias e estava a mostrá-las aos miúdos, quando entrou o João, sempre atrasado, despassarado e que ainda não falava correctamente. Viu as imagens do jornal que a professora mostrava e disse : “ Que esteis todos tão admirados? Quando dois cãos estarem agarrados, o meu pai deita-les um balde d’auga e eles separarem-se. Não é preciso nenhuma operação” .
Dum lado, às escâncaras, a vida do dia a dia; do outro, a inocência que em breve será perdida...

Júlia Ribeiro
Julho de 2011

8 comentários:

  1. Amiga Júlia!

    Apetece-me comentar este episódio com a frase que abre o texto: “Grande é a poesia, a bondade e as danças... Mas o melhor do mundo são as crianças.“

    Abraço,

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  2. Acho qu o melhor comentário é a frase com que a Julinha termina a estorinha .
    Faz-me lembrar a velha Querdoira, onde todos os animais andavam à solta, os raparigos viam tudo , ovelhas e porcas e cadelas a parir , era uma festa, mas a inocência continuava inteirinha até um dia ...
    Maria da Querdoira

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  3. Será que se pode usar o balde de água fria para separar os políticos do tacho?

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  4. Se estas crónicas sairem em livro antes do Natal eu compro 10 para oferecer.O que me tenho divertido.
    António Alberto Gomes

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  5. Amiga Júlia!
    Também acho, o melhor do mundo são as crianças!
    É sempre bom ler estes pedacinhos de inocência,tão inocentemente sentidos!
    Um abraço
    Tininha

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  6. Olá, Amigos e comentadores:
    Obrigada pelas vossas palavras amáveis.

    Um abração e até à próxima estorinha.
    Júlia

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  7. Pode-se comentar depois da autora?Bem-haja por tudo que tem feito pela nossa terra.No fundo do largo da corredoura devia haver um busto seu virado para Martins Janeira.Fazem parte do nosso orgulho de ser transmontanos de Moncorvo.Bem dita terra que tais filhos tem.
    Abel Nogueira

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  8. Tardia,mas não menos divertida com mais esta estorinha.Cá ficamos à espera,ansiosamente,pela próxima.Nestes tempos de crise,só mesmo estas estórias inocentes nos fazem rir com gosto.
    Concordo com o comentador que me precede : um busto da nossa escritora corredoirense no sítio onde nasceu é mais que justo.

    Uma moncorvense

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