terça-feira, 12 de junho de 2012

Colégio Campos Monteiro - Recolha de rochas, pedras e pedrinhas,por Júlia Ribeiro

Em vésperas da visita de um inspector ao Colégio Campos Monteiro, o Dr. Ramiro mandou os alunos da nossa turma fazer uma recolha de rochas, pedras e pedrinhas.   Escolheu a turma porque era"bem mandadinha", miúdos e miúdas não só da vila, mas de uma dúzia de aldeias em redor, muito aplicados, atiladinhos, etc. etc. e queria que fizéssemos um brilharete no dia em que o Sr. Inspector estivesse no Colégio.  Indicou-nos o Roboredo, as margens do Douro, do Sabor e outros lugares onde poderíamos encontrar pedrinhas menos vulgares.
No Domingo que se seguiu, na vila e em muitas aldeias, só se via a miudagem de martelo na mão, à cata de encontrar uma pedra mais fora do comum.Eu, a Lucinda e a Raquel, andámos pelas rochas recém-cortadas do que viria a ser o campo da bola de S. Paulo. Tinham uns veios oblíquos com umas cores ocre,vermelho, castanho que achámos uma beleza.
Os cachopos das aldeias todos trouxeram o seu pedaço de rocha. Só um rapaz se esqueceu completamente. Prometeu trazer no dia seguinte.
O Urgel em 2004
Limpámos as pedras muito bem e colocámo-las num tabuleiro, em cima de um papelinho em que havíamos escrito o nosso nome, o local onde a pedra fora encontrada e a data. Feito isto, começava o trabalho de observação: revirar a pedrinha, cheirar,riscar com a unha, raspar, dar até uma lambidela com a ponta da língua. O Dr. Ramiro ajudava a catalogar : granito, xisto, calcário, etc. Na aula seguinte teríamos de ir ao livro para saber mais características e componentes.
Mas, na aula seguinte, o aluno-cabeça-no-ar voltou a esquecer-se. O Dr. Ramiro, muito zangado, de cana na mão, ameaçou que o não deixava entrar se não trouxesse o diabo da pedra. Nós todos, debruçados sobre os calhaus, folheando o livro, comparando gravuras, tentávamos  classificar a nossa pedra, mas só com a ajuda do professor é que íamos acertando. Repetimos várias vezes e já sabíamos a cantilena de cor e salteada. Podia vir o Sr. Inspector.
E na aula pré-concertada lá estava ele. Entrámos, mas o aluno-cabeça-de-alho-chocho que, mais uma vez se esquecera da pedra, nem se atreveu a entrar. Deu meia volta a correr, regressou uns instantes depois com um paralelipípedo nas mãos que depositou em cima da secretária.
O Dr. Ramiro perdeu a fala de tão furioso que ficou ! Pegou no paralelipípedo, dirigiu-se à janela e zás , atirou-o à rua. O estrondo que fez foi enorme. Uma coisa estranha, de meter medo ! A miudagem estava em pânico, o inspector e o Dr. Ramiro espreitaram ... O tejadilho do carro do Sr. Inspector ia precisar de um grande arranjo.
Quereis saber quem era o aluno-cabeça-no-ar? Quem havia de ser ? O Urgel Guerra.
Uma jóia de moço que já não está entre nós. Mas ainda ríamos à gargalhada quando, em Mogadouro, recordávamos esse episódio.

Júlia Ribeiro

7 comentários:

  1. Eheheheh ! Esse tipo (o aluno) era o máximo !!

    Manuel Pinto

    ResponderEliminar
  2. O Urgel,que saudade,amigo de todos,sempre disponível,tecnico competente.E o humor da dra.Júlia a relembrar velhos tempos.Estive muito tempo a olhar para a foto do Urgel.Não haverá fotos dele ainda aluno?Jovem a irradiar vida.
    Um amigo.

    ResponderEliminar
  3. Irreverente e rebelde na juventude,profissional competente e responsável na idade adulta.Sempre amigo do seu amigo,pronto a ajudar em qualquer circunstâcia.Uma grande saudade do Urgel.
    O retrato que a Julinha nos dá dele na sua fase de (mau) estudante é hilariante.Obrigada!

    Uma moncorvense

    ResponderEliminar
  4. À distância aquilo que tanto aborreceu o professor, seria, também para ele, um momento de humor a recordar com comoção. Devíamos aprender a simular este distanciamento mais vezes e tudo na vida seria tão mais leve.

    Gostei muito, Júlia! Gosto sempre.

    Grande beijinho

    ResponderEliminar
  5. Grande Urgel ! Grande contadora !

    Um leitor

    ResponderEliminar
  6. Se ninguém contar estas coisas perdem-se.
    Faça um livro minha senhora.

    António Alberto

    ResponderEliminar
  7. Apoio a ideia, Bote estas estórias num livro,porque
    a sua memória é fora do vulgar.

    Um leitor

    ResponderEliminar

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.