Isto de ser velho tem que se lhe diga ...

Não vou falar dos cortes nas pensões dos reformados, nem do facto de o nosso primeiro tentar pôr os jovens comtra os idosos, nem de tristezas e miséria  paredes-meias, que é como quem diz, em simultâneo, com riqueza inexplicada (mas certamente explicável), vigarices e corrupção.

Vou só relatar um pequeníssimo episódio entre um jovem dos seus 18 anos e uma velhota dos seus 74. 

Eram horas de jantar, talvez já quase 9 horas da noite. Um toque de campainha frenético fez-me levantar do cadeirão. Antes de abrir a porta (hoje em dia todos os cuidados são poucos) espreitei pelo olhinho de lebre e vi um dos moços que andam de motoreta a distribuir as pizas às casas dos clientes que as encomendaram. O rapaz vinha enganado, mas pensei que poderia dar uma ajuda e abri a porta.

- Boa noite, minha senhora. Aqui tem a piza e a ... – e estendia-me a caixa da piza e a factura .

Interrompi-o para lhe dizer que eu não encomendara piza nenhuma.

- Mas alguém deste prédio e deste andar encomendou uma piza.

- Não,  o senhor está enganado.

(Eu percebi o erro do rapaz, mas como não gosto de piza, resolvi brincar um bocadinho e acrescentei):

- Ora olhe para mim. Acha-me com cara de quem gosta de piza?

O jovem ficou um pouco confuso com a pergunta, olhou a direito para mim e respondeu:

- Bem, há senhoras velhas que gostam de piza.

Achei que tive a resposta que mereci e, fingindo-me zangada, disse-lhe:

- Ai sou velha? Pois sei quem lhe encomendou a piza, mas não lhe digo.

- Por quem é minha senhora, diga-me. Sou estudante e tenho este biscate. Ganho à peça e se regresso com a piza ... Desculpe... Aliás,  a senhora não é velha... desculpe-me... É assim... um bocado p’ró idoso...  mas a falar... até é parece mais nova... e ...

- Cale-se lá, que quanto mais fala mais se enreda.

E expliquei-lhe: - Vá daqui, atravesse a avenida e do outro lado encontra o nº 21. Deste lado está o Lote 21.

Com muitos agradecimentos, e perdidos de riso eu e ele, lá se foi embora entregar a piza.

Na verdade, não sei - acho que ninguém sabe - por que nesta avenida há, de um lado, prédios com os seus respectivos números e do outro lado, Lotes com os mesmos números. Os enganos são mais que frequentes, como pode imaginar-se.

Leiria 9 de Janº de 2013

Júlia Ribeiro