domingo, 17 de março de 2013

ONTEM e HOJE : encontre as diferenças




O que mais me impressionou neste vídeo foi a forma calma, serena, como a Dona Sofia Gaspar falou. Distanciada no tempo, dirá o leitor.  Não, não só. Há uma total resignação e aceitação dos factos vividos, como se não tivesse consciência dos direitos que, como ser humano, lhe assistiam. E mais, como parturiente, aceitava como natural, o facto de ter de parir os filhos sozinha, sem qualquer tipo de assistência médica ou outra.“ …ia buscar uma tesoura e linhas e ia para o quarto… e lá me amanhava”.
Controlo de natalidade? Mas o que era isso? Filhos? Vinham os que Deus queria.  Era a fatalidade. Era o destino dos pobres.
Nesse tempo vivia-se em ditadura. A mulher nem precisava de saber ler.  E mesmo o homem, quanto menos estudos tivesse, menos pensamento crítico… O que convinha a quem governava.
Mas onde é que eu já ouvi isto bem recentemente?
Vejamos:
.Hoje, a educação é cada vez menos pública, o que quer dizer, cada vez mais pesadamente paga (pelos pais e por todos nós). Consequência: forte abandono escolar.
. O trabalho é cada vez mais escasso, o desemprego sobe em flecha; daí salários cada vez mais baixos. Objectivo: trabalhadores mais obedientes e passivos.
. Os jovens licenciados, com mestrados e doutoramentos, cuja formação ficou caríssima ao país ( a nós todos) vão dar o rendimento do seu trabalho a países estrangeiros.
. A informação que temos – jornais, programas televisivos – é cada vez mais manipulada a fim de obter mentes formatadas de acordo com os desígnios de quem nos governa.
. A saúde  ! Deixei a saúde para o fim, porque é o bem que mais prezamos. Pois a saúde está cada vez menos pública, ou seja, cada vez mais privada e, obviamente , cada vez mais cara. Escasseiam já medicamentos para certas doenças e que os pobres (somos cada vez mais e cada vez mais pobres) não podem pagar. Consequência : alargar cemitérios e ter cada vez menos filhos.
Agora cabe uma pergunta: será que não estamos já a assistir a um modo de vida em que um club restrito de muito ricos tudo possuem e em todos mandam, mesmo nos políticos, na justiça, na informação? E nós, os trabalhadores mal pagos, os pensionistas, os sem-emprego, que não temos o cartão do club, ficamos de fora. Isso tornar-nos-á tão obedientes e passivos como em ditadura?  Irão as minhas netas, um dia, viver a situação de mães a parir um filho como a Dona Sofia ?  “ …Fui buscar uma tesoura e umas linhas e lá me amanhei…” 
Não ! Prefiro pensar que ninguém lhes subjugará a mente e um dia dirão : BASTA!

Leiria, 17 de Março de 2013
Júlia Ribeiro



10 comentários:

  1. Carlos Areosa escreveu:Impressionante!

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  2. Beatriz Martins escreveu: Este vídeo faz pensar e muito, trabalhei no Hostital de São João no Porto, no início da minha carreira de educadora de infãncia, na pediatria A, não vos descrevo o que vi porque iria fazer-vos chorar. Também estive oito dias agora no hospital de Bragança, tentando ajudar na partida de meu pai, MY GOD!... qundo a família é quentinha e bem resolvida eu preferido o amor à técnica e hoje fico por aqui para não ser inconveniente. A senhora é linda.

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  3. Amélia Rocha Correia escreveu: Espero que as coisas melhorem e o mundo não seja só par os ricos...

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  4. Impressionante, sem dúvida!

    Parabéns!

    Isabel

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  5. O relato desta senhora arrepiou-me. Ainda estou abalada. O texto é muito bom.

    Um abraço para a Dona Sofia e outro para a Dona Julia.
    Ana Sofia

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  6. A minha colega Ana Sofia já escreveu o que sentiu, mas quer que eu diga qq coisa. Eu fiquei com um nó na guarganta.
    Também os meus avós sofreram muito. Que Deus os compence a todos.

    Kátia

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  7. A Cátia diz que ficou com um nó na garganta, eu também. Tenho a certeza que gente nova não entende e nem acreditará. Inch Alá que não venham a viver situações de miséria extrema como a Dona Sofia Gaspar. O texto é notável. Minha senhora, continue a escrever assim e nunca as mãos lhe doem.

    A.S.Dias

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  8. ONTEM foi assim.HOJE,felizmente,tudo melhorou.Tenhamos esperança de que AMANHÃ as futuras mães não tenham de se "amanhar"com tesoura e linhas como muitas pobres mulheres faziam no passado.
    Belo texto,Julinha.Mas eu sou optimista:já não nos deixamos vergar.Lá diz a canção:"o povo é quem mais ordena" ...
    Abraço.

    Uma moncorvense

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  9. Simplesmente surreal!
    Tempos distantes,que espero e desejo não se voltem a repetir.
    Bem haja,querida Julinha,pela coragem que tem ao abordar estes temas.
    Beijinhos.
    Irene

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