sábado, 20 de abril de 2013

VALES - Primavera

      Foto  A.F.F.M.

1 comentário:

  1. Eu nunca guardei rebanhos, Mas é como se os guardasse.
    Minha alma é como um pastor,
    Conhece o vento e o sol
    E anda pela mão das Estações
    A seguir e a olhar.
    Toda a paz da Natureza sem gente
    Vem sentar-se a meu lado.
    Mas eu fico triste como um pôr de sol
    Para a nossa imaginação,
    Quando esfria no fundo da planície
    E se sente a noite entrada
    Como uma borboleta pela janela.
    Mas a minha tristeza é sossego
    Porque é natural e justa
    E é o que deve estar na alma
    Quando já pensa que existe
    E as mãos colhem flores sem ela dar por isso.
    Como um ruído de chocalhos
    Para além da curva da estrada,
    Os meus pensamentos são contentes.
    Só tenho pena de saber que eles são contentes,
    Porque, se o não soubesse,
    Em vez de serem contentes e tristes,
    Seriam alegres e contentes.
    Pensar incomoda como andar à chuva Quando o vento cresce e parece que chove mais. Não tenho ambições nem desejos
    Ser poeta não é uma ambição minha
    É a minha maneira de estar sozinho.
    E se desejo às vezes
    Por imaginar, ser cordeirinho
    (Ou ser o rebanho todo
    Para andar espalhado por toda a encosta
    A ser muita cousa feliz ao mesmo tempo),
    É só porque sinto o que escrevo ao pôr do sol,
    Ou quando uma nuvem passa a mão por cima da luz
    E corre um silêncio pela erva fora.
    Quando me sento a escrever versos
    Ou, passeando pelos caminhos ou pelos atalhos,
    Escrevo versos num papel que está no meu pensamento,
    Sinto um cajado nas mãos
    Alberto Caeiro

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