segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Lenda de Moncorvo - I



TORRE DE MONCORVO é uma povoação transmontana que dista cerca de uma centena de quilómetros de Bragança.

         Segundo a lenda, viveu naquela região, há muito tempo atrás, alguns séculos, um homem chamado Mendo, ou Mem. Dizem uns que era um nobre senhor, mas a nossa lenda faz dele um pobre lavrador que habitava uma choupana com sua mulher, não muito longe do monte Reboredo.
         Aconteceu certo dia que Mendo achou um tesouro enterrado sob um penedo do monte. Vendo-se, de repente, tão rico - o tesouro era fabuloso - o homem sentiu fugir-lhe o juízo. Em breve, porém, recuperou o sangue-frio e, reconhecendo ser melhor manter em segredo aquele achado, para que lho não cobiçassem, tratou de pensar no que lhe fazer, onde o guardar.
         Tão grande era a sua alegria, que não cabia em si e, no fundo, desejava partilhar o seu segredo com alguém que consigo se regozijasse. E, como a pessoa que mais perto de si estava por muitas razões óbvias, era a mulher, sentiu uma imensa vontade de lhe contar a felicidade que acabara de ter. Contudo, Mendo era desconfiado, e como conhecia a mulher de ginjeira, achou que ela não seria capaz de guardar o segredo por muito tempo.
         Assim, decidiu arranjar uma mentira para a pôr à prova. Depois de muito pensar, encontrou o que dizer e foi ter com ela:
         - Anda cá, mulher, senta-te aqui comigo nesta pedra! Quero contar-te uma coisa, mas tens de prometer guardar segredo...
         - Então o que é? Conta, homem, conta!!
         - Juras que não contas nada disto a ninguém?
         - Juro, pois! por estes dois que a terra há-de comer!... -disse ela apontando para os olhos.
         - Então lá vai: calcula que vi hoje um corvo parir um par de corvinhos!...
         - Ora homem, isso é lá possível !?
         - Eu seja ceguinho
         A mulher ficou-se um pouco incrédula, sentada na pedra, enquanto ele se afastava para ir à sua vida, contente com a história que arranjara. Agora era só esperar algum tempo, ter um pouco de paciência e ... ver o resultado. 
         Durante algum tempo, a mulher quedou-se pasmada com a história que Mendo lhe contara:
         «Era lá possível um corvo parir, parir como gente!?  Não, não é verdade!  Aquilo foi o  homem a mangar comigo...».
         Sem poder conter-se mais, e como um segredo é aquilo que se conta a uma pessoa de cada vez, foi dali à vizinha mais próxima relatar o que lhe dissera o marido. Desta vez o corvo já não tinha parido dois corvinhos, mas quatro e, é claro, tudo isto era um segredo.
         Acabada a conversa, despediram-se as vizinhas e foi dali cada uma contar a outra pessoa. De tal modo se espalhou o segredo que em breve toda a gente da região conhecia a história do corvo parindo, em variadíssimas versões.
         Em vista disto, Mendo, o lavrador, decidiu ocultar de todos o seu segredo, o seu tesouro, e para isso construiu uma grande torre onde passou a morar para melhor defender o seu ouro.
         Do nome do lavrador e da história do corvo, ficaram a chamar ao edifício Torre do Mendo (ou Mem)·do Corvo. Com o tempo, esquecida a historia, o povo foi simplificando o nome até chamar ao local Torre de Moncorvo.
         As lendas são consideradas um caso à parte na literatura popular.
É sua característica fundamental o relatarem factos tidos como acontecidos e dai o serem localizadas no espaço e no tempo. Em qualquer casa, povoado, vila, cidade ocorreram e ocorrem em qualquer altura acontecimentos e sucessos de vária índole. Pouco a pouco o fundo real do facto vai-se diluindo e os pormenores esquecem-se ou substituem-se por outros, formando-se deste modo um produto meio real meio fantástico: a lenda. Nem todas estas narrativas têm, porém, um fundamento histórico, já que algumas delas se formam para explicar um determinado fenómeno físico, ou a forma de um animal, por exemplo.
         As lendas históricas referem-se a personagens que a Historia Geral assinala, a locais e monumentos com tradições.



1 comentário:

  1. Bela lenda da minha terra.Não conhecia.Há mais? Está editada em livro?Obrigado por divulgarem.Grande,grande foto.
    Moncorvense da diáspora

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