sábado, 15 de março de 2014

Guerra Junqueiro na óptica de Leonardo Coimbra

Há, para este autor, fases na vida do escritor e poeta nascido em Freixo de Espada à Cinta, designadamente a do polemista (Pátria, A Velhice do Padre Eterno, A Morte de D. João), a do “repouso lírico” de Os Simples e a da “reconstrução espiritualista” das Orações (à Luz, ao Pão).
Para Leonardo, Junqueiro é, durante grande parte da sua vida, um “optimista imanentista e naturalista”, acredita no “valor infinito da ciência”, só deixando de o ser pela “experiência da dor pessoal”. Da filosofia interessava-lhe a metafísica, tinha em preparação o tratado “Unidade do Ser” em que caberia um “panteísmo espinosista, penetrado da vida com que o evolucionismo naturalista o poderia encher” .  Em suma, para o filósofo do Porto, o Junqueiro eterno é o de Os Simples, “pela sua bondade comunicativa, pela sondagem até ao infinito de cada alma, até ao ponto onde começa o outro mundo, tanto mais eterno quanto mais se desprende de si e se entrega ao “fervor dos humildes”, chegando o filósofo ao ponto de afirmar que quase toda a outra produção do escritor e do poeta é “como a escória saída da fusão espiritualista da sua alma”, algo que “sobrenada” e dessa forma é visto mais facilmente.
Há em Os Simples uma certa alma, a de um certo povo e também a alma da terra que se faz, no mínimo, paisagem. Aqui, quanto mais se dá o afastamento do “intelectualismo” mais se nota a aproximação de uma “simpática vibração” em que “o Poeta irá viver mentalmente a vida dos simples, mas com a contradição na alma, num permanente esforço de só querer sentir com eles e como eles, adormecendo o pensamento”.
Leonardo vai debruçar-se sobre vários aspectos de Os Simples, a saber: a Moleirinha (o envelhecimento no sossego do dever cumprido), o Cadáver (a cinza em associação com o princípio), as Ermidas (pontos do Alto em direcção ao mistério que em boa parte a infância sempre encerra), o Pastor “de rebanhos de almas pelo azul profundo”, o Cavador (a dureza do trabalho), os Pobrezinhos (obsessão um tanto estranha de um “economicamente homem de cabedais”), o Campo Santo (luar, luar), enfim, Canção Perdida “no espaço, pedindo lembrança e companhia”.
 Coimbra, Leonardo, Guerra Junqueiro – Nota prévia, organização e fixação do texto de Paulo Samuel, Porto, Lello Editores/Universidade Católica Portuguesa, Centro Regional do Porto, 1996.

Texto e foto enviados por Carlos Sambade 

2 comentários:

  1. Ana Diogo :
    Gostei muito deste recordar de Junqueiro, tão esquecido!

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  2. Manuel Queijo Queijo :
    Muito bem.

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