segunda-feira, 4 de agosto de 2014

NORTEANDO,por Júlia Ribeiro

Apresentação do livro no "El  Corte Inglés".

Que hei-de eu escrever sobre o deslumbre que são os textos de Amadeu Ferreira a par das fotografias de Luis Borges?
Penso, ou melhor, sinto que não devia escrever uma só palavra e  antes  dizer aos leitores : - Lede e vereis com os próprios olhos quão perfeita é cada crónica, quão bela é cada fotografia  e à beleza e à pefeição nada se deve acrescentar .
Li as crónicas, uma por uma,  à medida que elas eram publicadas no Facebook. Como mandam as regras, observava primeiro as fotografias de Luis Borges que lhe serviam de mola. E que fantástica mola! Fabulosas essas fotografias!
É espantoso como fotografia e texto formam um todo, um nó que não se desata e só possível, porque de dois enormes artistas  se trata.
Através  dos textos e das fotografias apercebemo-nos de diversas facetas dos autores:  homens simples que amam a terra e com ela e com os que a trabalham se identificam: o pastor, o vaqueiro, o malhador, o gadanheiro ...  a mulher que coze o pão e o folar, e lida na cozinha , e ajudou a construir os socalcos, e que também é pastora, e serve de arrimo e companhia ao homem, avultam na sua galeria de retratos.  Mas esses retratos não são tão somente físicos. O escritor e o fotógrafo questionam-se sobre  a jornada do Homem ao longo da sua existência e para lá dela.
Outra dimensão, que não está desligada da anterior, é o seu amor pela Natureza: montanhas, rochas, fragas, rios, e todas as plantas desde centenários e carcomidos castanheiros até às ervinhas  que o Amadeu sabe melhor nomear na língua em que bebeu o leite materno: yerba bota, carniçuolos, garabatina, fedieiras, niebros, scobielha, etc. .
A este apego à Natureza se associa o apego aos animais, companheiros de caminhos, de solidão  e de trabalho: as ovelhas, as mulas, os burros, os bois, cada vez menos utilizáveis e menos utilizados, substituídos por máquinas que vão afastando mais e mais o homem da terra, donde tudo nasce e onde tudo se acaba.
Fotógrafo e escritor são ambos homens profundamente ligados às suas raízes, mas a sua visão do mundo não é saudosista nem pretendem um regresso ao modo de vida que os seus pais e avós viveram.
Muito mais haveria a dizer, mas vou só deixar mais meia dúzia de palavras sobre Amadeu Ferreira e Luis Borges, poetas, pois é como poetas que um e outro invadem textos e  fotografias.
Para mim foi, é, um maravilhamento rever as imagens magníficas, que me trazem à alma visões da minha infância e dos meus sonhos; reler as crónicas, na sua linguagem pura, cristalina, que me traz ao ouvido acordes suavíssimos e ao coração o toma de assalto o seu estilo intenso e arrebatador, com frases que me atingem ora como afagos, ora como punhos, deixando-me,  por vezes , sem fôlego.
Para terminar, que a palra já vai longa, quero deixar aqui duas ou três linhas de uma das suas belíssimas crónicas – acompanhada de um rosto que jamais se esquece – e que espelham o lado sonhador do fotógrafo-poeta e  do  poeta-cronista: Livro de           Horas :  “desesperas sempre a ler o livro do rosto, ainda por decifrar essa escrita do tempo com tinta de lágrimas e riso, iluminura de angústias e de afectos, sempre aberto livro de horas onde o fogo dos sonhos não se apaga”.  

Leiria, 29.07.2014

Júlia Guarda Ribeiro                                                          

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