segunda-feira, 10 de novembro de 2014

A bola da chamusca (Quem se lembra?), por Júlia Ribeiro

Largo da Corredoura, 1974.
Fotografia de Leonel Brito
No tempo em que as nossas mães coziam o pão para toda a semana, os raparigos não lhes largavam as saias por causa da “bola da chamusca”. Era o que de mais perto tínhamos com um bolo.

Mas o que era a bola da chamusca? Um pedacinho de massa ainda não lêveda a que as mães davam a forma de uma parreca, de um galo de crista bem recortada, de um porco, de um boneco, conforme a imaginação e a habilidade de cada uma, ou simplesmente a massa era espalmada nas mãos. Essas obras de arte eram então colocadas na laje mais perto da boca do forno, onde ainda ardiam os toros das giestas negrais. Só lá demoravam 2 ou 3 minutos para não se abrasarem. De um lado ficavam sempre um pouco chamuscadas, do outro um tanto mal cozidas.
As mães tiravam aquela “bonecrada” com a pá do forno e colocavam-na nuns ramos de giesta, para a canalhada não se queimar.
Fazíamos roda e os olhos dos garotos não mais se desviavam do seu tesouro. Mesmo quando o boneco que nos pertencia era feio como os cramonos da Igreja, sabia como pão-de-ló em dia de festa.

9-11-2014

Júlia Ribeiro


2 comentários:

  1. Estorinha bem contada.Tinha saudades das crónicas da nossa Julinha.Apareça mais vezes para nosso prazer.Obrigado minha senhora.
    António H.

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  2. Olá querida Julinha!
    Finalmente apareceu para dar ainda mais alegria a este fantástico blog !Apareça mais vezes para nos transmitir a sua alegria e sabedoria. Gostei imenso dos "cramonos" a saberem a pão de ló..Beijinhos de amizade.
    Irene

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